terça-feira, 23 de novembro de 2010

Promotores de justiça convertidos ao crime

Promotores de justiça convertidos ao crime
Por Roberto Barbosa, em 21-11-2010 - 16h58
O conteúdo que segue abaixo parece roteiro de filme inspirado na atuação das máfias italianas, mas foi extraído da edição desta semana da revista Veja. Retrata um ambiente que traduz mais segredos e sujeiras do que supõe as aparências. Leia, só que é bom deixar claro: qualquer semelhança com atos que você conheça ou ouviu falar, é mera coincidência.

Veja

A coisa nossa brasiliense

O chefe do ministério Público do DF usava trinta celulares, o codinome “Fernando” e se fantasiava de motoboy para participar de reuniões secretas da máfia da capital

Durante quatro anos, Leonardo Bandarra ocupou o cargo de procurador-geral do Distrito Federal. Eleito pelos colegas e avalizado pelo presidente da República, ele era o responsável pela nobre missão de zelar pelo bom funcionamento das instituições e defender os interesses dos contribuintes da capital do país.

Havia muito se suspeitava, mas só na semana passada é que apareceu a melhor evidência de que Bandarra mantinha laços de sangue com a turma do lado escuro da força. De terno, durante o dia, o promotor tinha acesso às principais investigações contra os corruptos da capital. À noite, vestido de motoboy, (jaqueta de couro e capacete espelhado, para não ser identificado), ele se misturava a eles.

Em conjunto de vídeos apreendidos pela polícia, eles já se tornaram comuns em Brasília, Leonardo Bandarra foi filmado chegando à casa de uma colega de trabalho, a também promotora Déborah Guerner, que, como o marido, mantinha um cofre enterrado no jardim para depositar dinheiro de propina. Bandarra e Guerner recebiam R$ 300.000 reais de mesada para manter o Ministério Público distante da máfia que desviou mais de R$ 1 bilhão de reais dos cofres públicos do Distrito Federal.

A dupla de promotores utilizava trinta aparelhos celulares e se escondia por trás de pseudônimos. Guerner era “Rapunzel”. O codinome de Bandarra era “Fernando”. Se na rua o disfarce de motoboy protegia o procurador, na casa de Déborah Guerner, onde a quadrilha se reunia, inclusive com a participação do então governador José Roberto Arruda, o “Ricardo”, os cuidados com a segurança eram extremados.

Rapunzel, Fernando e Ricardo chegavam a tirar as baterias do celular para ter a certeza de que não estavam sendo rastreados. As conversas aconteciam na sauna, com os participantes totalmente nus, para evitar que alguém gravasse alguma coisa.

As novas evidências comprovam que a quadrilha que atuava por mais de uma década no DF se entranhou, como faz a máfia, em todos os escalões da administração pública. Parlamentares, delegados, o governador e o vice foram pilhados locupletando-se do dinheiro público.

Pior do que envolvimento simbólico da maior autoridade no combate à corrupção com a máfia é a certeza de que esse ecossistema que grassa o Distrito Federal encontrou meios para se renovar. Os mesmos personagens que rapinaram os cofres públicos nos últimos anos já se articulam para se manter no próximo governo, do petista Agnelo Queiroz.

Apesar da profundidade das investigações, nenhum empresário corruptor visitou a cadeia. Queiroz elegeu-se prometendo atenção total à saúde. A Linknet, empresa de informática que abastecia o propinoduto da capital, está atenta aos novos tempos. Por meio de laranjas, seu proprietário comprou a participação em uma pequena indústria farmacêutica. A polícia já sabe para quê.

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